“Christina Sharpe tem se dedicado a pensar as múltiplas implicações do legado narrativo da escravidão do povo negro. Com sagacidade, ela mapeia os valores de beleza que emergem da arte negra, sinalizando que também os artistas negros criam linguagens em meio à destruição que os persegue. Em nosso país, em que a branquitude insiste em ocupar todos os espaços da cultura e do pensamento, determinando com tolerância mínima, quem são os poucos não-brancos que podem acompanhá-los nessa travessia farsesca, a difusão da obra de Sharpe é especialmente relevante”, explica Fernanda Bastos, curadora da Flip.
Em No vestígio: Negridade e existência, Sharpe desvenda os vestígios das memórias negras escondidas numa história predominantemente branca. Memórias individuais, um trecho de uma matéria de jornal, um verso de um poema, uma fotografia encontrada num arquivo, uma obra de arte, uma cena de filme, a arquitetura de uma cela, são a matéria-prima que guardam vestígios de onde Sharpe parte para desdobrar camadas de sofrimento, descaso, crueldade, opressão, desamparo, em um sistema escravista que opera com a violação permanente da vida negra.
“Christina Sharpe penetra profundamente no passado da diáspora africana não apenas para identificar as marcas das violências historicamente perpetradas contra populações negras, mas, sobretudo, para evidenciar a contínua manipulação das vidas negras por um sistema branco enraizado na sociedade. O jogo sensível e sofisticado que ela faz entre arte, palavra, história e memória torna seu trabalho essencial não apenas para pessoas negras, pois traz essa articulação como um meio para revelar possibilidades de enfrentamentos a partir do rompimento dos estereótipos violentos e limitadores agenciados pela branquitude a respeito da existência de sujeitos negros. Ter ela na Flip certamente nos possibilitará uma experiência sensível, instigante e profundamente relacionada a nossa realidade”, conclui Milena Brito
Christina Sharpe graduou-se em Inglês e Estudos Afro-Americanos pela Universidade da Pensilvânia e concluiu o mestrado e o doutorado em Língua e Literatura inglesas pela Universidade Cornell, em Ithaca. Escritora, professora e pesquisadora pelo programa Canada Research Chairs em Estudos Negros nas Humanidades na Universidade York, em Toronto, é também pesquisadora associada sênior no Centro de Estudos de Raça, Gênero e Classe na Universidade de Joanesburgo. Em 2017, No vestígio foi finalista da categoria Não Ficção do Hurston/Wright Legacy Award. O livro foi também considerado um dos melhores do ano de 2016 pelo jornal The Guardian. Atualmente, Christina Sharpe vem se dedicando à escrita de três livros: Black. Still. Life (Duke, no prelo); What Could a Vessel Be? (Farrar, Straus and Giroux/Knopf, no prelo); To Have Been to the End of the World: 25 Essays on Art.